terça-feira, 19 de março de 2013

ESCRITOR PHILIP ROTH COMPLETA 80 ANOS

Escritor norte-americano completa hoje oito décadas de vida com eventos que celebram sua obra em várias partes do mundo faz 80 anos nesta terça-feira. Não é o caso de desejar felicidades porque, para Roth, “a velhice é um massacre”. A última repórter que arriscou falar na idade do autor foi Tina Brown, no Daily Beast. A entrevista é de três anos atrás e ela pergunta, depois de se enrolar um pouquinho: “Como é ter 70 anos?”. Roth dá um sorriso irônico, aperta os olhos e responde: “Hum... Eles são ótimos!”. Os dois começam a rir. “Mal posso esperar pelos 80”. Gargalhadas... Ele fez piada porque, àquela altura, já havia escrito alguns livros que tratam do “massacre”. Homem Comum, Fantasma Sai de Cena e A Humilhação falam do tema que apareceu na obra de Roth violentamente em 1991, quando ele descreveu o fim da vida do pai em Patrimônio. A questão é que Philip Roth parou de escrever. Algumas notícias afirmaram que ele “decidiu se aposentar”, mas não foi bem isso. Foi durante uma entrevista para a revista francesa Les inRocks, em outubro de 2012, dois anos depois de Nêmesis, seu último livro, e o que ele disse tinha um tom mais contundente que o de um anúncio simples. E, pensando bem, seria estranho se Roth viesse a público para “anunciar sua aposentadoria” numa mera formalidade. O que ele disse foi: “I’m done”. Algo como: “Para mim, chega”. Quando pediram para ele elaborar, como fez Charles McGrath, do New York Times, ele contou que colou um post-it no computador que diz: “A luta com o ato de escrever terminou”. E que olhar para essa anotação todo dia de manhã o fortalece. Diplomático, Roth aceitou a edição e disse para o estreante: “Desista [de escrever] enquanto é tempo”. O sujeito relatou o encontro e o conselho que recebeu em um texto no blog da Paris Review. Elizabeth Gilbert, indignada com a postura de Roth, de que escrever é um tipo de tormento, produziu um texto dizendo que era muito feliz e satisfeita por se dedicar à literatura. O rapaz fez então uma carta aberta pedindo desculpas a Roth por ter armado um circo. Na confusão toda, Roth não se pronunciou. (Estranho, porque ele costumava gostar de um bom embate. Ficou famosa a carta que ele escreveu para a Wikipedia depois que o site não aceitou que ele corrigisse um erro publicado na página a respeito de seu romance A Marca Humana.) A ironia na saída de cena de Roth, apontada por Adam Gopnik na New Yorker, é que a decisão de parar de escrever atraiu mais atenção que o lançamento de um livro novo poderia ter. O enredo parece ter saído de um livro de Roth – a relevância da obra de um escritor ganha novo fôlego pela recusa em publicar. Ainda mais irônico é ler que Roth parece feliz com a decisão que tomou. Na mesma reportagem do New York Times, ele conta que arranjou uma cozinheira e passou a receber pessoas em casa para jantar, algo que não fazia nunca. Até comprou um iPhone para se entreter. Não é exatamente o cenário de um “massacre”. Fonte: Caderno G Gazeta do Povo

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